Foto do mês (Edição de setembro de 2024): Jaguaretê



Jaguaretê, o jaguar verdadeiro, chamado no Brasil de onça-pintada (Panthera onca), é sem dúvida um dos animais mais emblemáticos de Abya-Yala. Apesar da ampla distribuição geográfica, do norte da Argentina ao sul dos Estados Unidos, algumas populações estão em declínio. A caça e a destruição de ambientes fazem com que o maior felino do continente esteja vulnerável à extinção, ou em alguns lugares já até esteja localmente extinto. 

 

No Pantanal, pecuaristas já chegaram a promover uma espécie de cruzada contra o jaguarete. Nessa região, a espécie encontra um de seus habitats preferidos e, com a introdução desenfreada do gado, ela tinha alimento fácil. Ao se alimentar de animais de criação, ela alimentava o ódio de fazendeiros. Nos anos 2000, alguns pecuaristas chegaram a promover safáris de caça à onça-pintada, mas o histórico de ódio ao jaguaretê é secular. 

 

Com muito esforço ao longo das últimas décadas, essa relação com a caça felizmente está mudando. A conscientização da população, especialmente de pecuaristas, aliado a criação de unidades de conservação, faz com que, atualmente, o Pantanal seja a região com maior densidade de jaguaretês no mundo. 

 

Mas os felinos encontram um novo problema. O que as ameaça agora, porém, é a destruição do Pantanal pelas queimadas criminosas, que exacerbam os efeitos das secas prolongadas na região. As estiagens cada vez mais severas são fruto das mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que os rios que alimentam o Pantanal são represados e têm seus volumes cada vez mais limitados.

 

Ao fazer uma expedição junto com o projeto Jaguar ID, que estuda a população de jaguaretês no Parque Estadual do Encontro das Águas, no estado do Mato Grosso, tive a oportunidade de encontrar diversos indivíduos que vivem livremente pela região. O projeto identifica os animais pelo padrão de pintas, podendo monitorá-los ao longo do tempo, assim como no caso dos linces ibéricos que descrevi na primeira edição da foto do mês.

 

Então, pela imponência do olhar de Pollyana entre os arbustos das margens do Rio Cuiabá, em um momento em que o Pantanal queimava desenfreadamente, dedico a foto desse mês à resistência do jaguaretê e a persistência e coragem de quem trabalha duro pela sua conservação.