Berço das Águas
Projeto de longa duração
Situação: Em andamento (temporariamente interrompido pela pandemia de Covid-19 e por trabalho no exterior)
Início: 2019
Formato: digital
O Cerrado brasileiro agora é amplamente conhecido como o “Berço das Águas” da América do Sul. O motivo mais popular para esse apelido é o fato de que oito das doze principais bacias hidrográficas do continente têm suas nascentes dentro dos limites geográficos do Cerrado.
Mas a real importância do Cerrado para o ciclo hidrológico é muito maior do que isso. Sua vegetação típica é muito diversificada e inclui três biomas principais: campos, savanas e florestas. Especialmente as savanas, a vegetação mais típica do Cerrado, têm raízes muito profundas. Tão profundas que há anos as savanas brasileiras têm sido chamadas de “florestas invertidas”, já que a maior parte da biomassa é subterrânea. Essas raízes absorvem água das profundezas do solo e a devolvem para a atmosfera na forma de vapor, que se condensará e formará chuva.
Essa interação biosfera-atmosfera completa o ciclo hidrológico e é uma parte fundamental para a ocorrência dos chamados Rios Voadores, que “transportam” a umidade da Amazônia para o sudeste do Brasil. Em outras palavras, os Rios Voadores não são jatos literais de vapor que saem da Amazônia e chovem em outra região, mas sim a evaporação e precipitação da umidade amazônica centenas de vezes. E grande parte dessa evaporação e precipitação ocorre nas savanas do Cerrado.
Apesar de sua importância hidrológica para o continente ser discutida há muito tempo na academia, apenas recentemente o Cerrado vem ganhando popularidade como uma região que precisa ser conservada. O desmatamento quebra o ciclo hidrológico, mantendo a água subterrânea. Como consequência, o Cerrado está ficando mais quente e mais seco, e cerca de 80% de sua flora endêmica conhecida está sob ameaça de extinção.
Este projeto fotográfico busca retratar a biodiversidade ameaçada e o ciclo hidrológico no Cerrado, assim como as consequências de sua ruptura, que levam ao quarto estado físico da água: sua ausência.
LEITURA COMPLEMENTAR
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