Foto do mês (Dezembro de 2023): Etna

 

Certa vez percebi que as três coisas que eu mais queria ver e fotografar eram as auroras, as ondas gigantes de Nazaré e vulcões em erupção. Não sei exatamente por que essas três coisas, mas provavelmente porque compartilham uma característica particular, além da experiência hipnotizante que eu espero de cada: são forças naturais brutais, ocorrendo em condições atmosféricas, geográficas e geológicas específicas. Apesar de serem relativamente “comuns”, ao mesmo tempo, são fenômenos raros.

 

Isso não é necessariamente verdade para uma pessoa comum que viva na Islândia, por exemplo, que poderia ver vulcões sob auroras. Provavelmente também não é algo muito desejado para grupos de pesca artesanal em Nazaré, que sempre temeram as enormes paredes de água que emergem do oceano. No entanto, a característica geográfica desta lista sempre foi a barreira mais difícil de superar, e todos esses fenômenos, comuns para populações locais, pareciam impossíveis para mim até pouco tempo atrás.

 

Por isso eu não tinha uma ordem específica para seguir, já que todos pareciam igualmente inalcançáveis. Enquanto morava no Brasil, pensar em viajar para o vulcão mais próximo era tão surreal quanto uma viagem para as auroras ou para Nazaré no exato dia das ondas gigantes. Mas, de repente, uma oportunidade inesperada de estágio na Europa mudou o cenário. Em 2018, morando na Espanha, pude visitar a Lapônia sueca por uma semana e finalmente pude ver as auroras e marcar o primeiro item da lista. Quatro anos mais tarde, inesperadamente morando na Espanha outra vez, tive a oportunidade de fotografar as gigantes de Nazaré.

 

Com dois terços da lista já concluída, e ainda na Europa, decidi perseguir ativamente os vulcões. Durante um curto período morando na Itália, tentei sem sucesso visitar o Stromboli algumas vezes entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023.

 

Mais tarde, em 10 de julho de 2023, a erupção do Fagradalsfjall, na Islândia, me acendeu o sinal amarelo. Após a autorização das autoridades locais para visitar a área, comecei a procurar os voos mais baratos (mesmo assim caros) e a organizar os dias de folga do trabalho. Em 27 de julho, reservei o voo para pousar em Reykjavik no dia 5 de agosto. Monitorando as webcams duas ou três vezes por dia antes de viajar, não tinha certeza se chegaria a tempo de ver a erupção e organizei um plano B de coisas para visitar na Islândia. Felizmente, eu estava preparado para o pior. A erupção oficialmente acabou algumas horas antes do pouso! Sem lava, sem fumaça.. nada além de chuva fria e vento durante a longa caminhada para chegar até a cratera. Meu humor no resto da viagem de dez dias quase acabou também.

 

Três meses depois, e quase recuperado emocional e financeiramente da Islândia, foi a vez do Etna. Após uma nevasca severa, a erupção começou em novembro de 2023, proporcionando imagens maravilhosas do vulcão branco. Com razões particulares para ir, além da erupção, os voos foram reservados para chegar à Sicília em 2 de dezembro.

 

Desta vez, eu tinha a certeza de voltar com ótimas fotos de uma erupção. As imagens na webcam ao vivo do Etna na noite anterior ao voo eram promissoras. O texto da “foto do mês” estava quase pronto. O plano B de ir ao Stromboli em caso de acabar a erupção foi abandonado. Não havia necessidade de viajar mais para meu sonho finalmente se tornar realidade. A lista de desejos estava potencialmente 100% concluída.

Webcam ao vivo do Etna na noite anterior ao voo para a Sicilia.

Mas a Natureza é aleatória, incontrolável e imprevisível. A vida seria muito mais fácil (e bagunçada!) se a realidade obedecesse aos desejos individuais. Nenhuma vontade humana em particular pode mudar o curso do Universo, e o Etna me lembrou disso do jeito mais difícil: a erupção terminou algumas horas antes do pouso… novamente!

 

Duas ilhas vulcânicas a milhares de quilômetros de distância, com culturas, gastronomias e paisagens completamente diferentes, mas com tanto em comum para mim. Apesar da frustração das erupções, Islândia e Sicília provocam memórias furiosas, frustradas e (muito) felizes de momentos na minha vida que significaram a busca dos meus sentimentos. De volta à Espanha, a brincadeira com meus amigos era que eu poderia tentar encontrar um emprego com a prevenção de desastres vulcânicos apenas pousando perto das erupções.

 

Pouco antes de me mudar da Espanha para a América do Sul, fiquei alerta com as novas erupções de dezembro na Islândia, mas dessa vez era nítido que não deveria viajar, já que as autoridades locais e a população estavam pedindo a turistas que mantivessem distância da área de erupção. No início de janeiro de 2024, quando já havia mudado para o Brasil, a erupção em Grindavik infelizmente destruiu várias casas, e espero que as famílias recebam o apoio necessário. A fotografia deve ser ética, e é triste ver tantos fotógrafos turistas desrespeitando as diretrizes locais apenas pela foto, como aconteceu em Grindavik e durante a erupção do vulcão Cumbre Vieja, nas Ilhas Canárias, durante a pandemia.

 

Agora, no Sudeste brasileiro, a busca por vulcões é mais difícil, mas desta vez não vou considerá-la uma tarefa impossível. Tenho vários lugares em mente para visitar na primeira chance que tiver. No entanto, mesmo sem lava sendo expelida, o Etna conquistou seu lugar no meu coração. Mesmo depois de cinco dias andando ao redor do vulcão, fazendo muitas fotos, foi a primeira visão da montanha nevada ao pôr do sol o momento mais inesquecível. A foto do mês já foi feita logo no início de dezembro. O texto quase pronto sobre a erupção, no entanto, está guardado para uma oportunidade futura e espero que logo, para finalmente completar minha lista atual de desejos fotográfico – e então começar a pensar na próxima lista.

Primeira vista do Etna