Foto falida#6: Popocatepetl
Fotografar um vulcão ativo está no topo da lista de prioridades pessoais já faz um tempo. Quando morava na Europa, fiz uma série de buscas por vulcões ativos, tanto na Islândia quanto na Itália, todas fracassadas. Ganhei o apelido de “apaga vulcões” por sempre chegar algumas horas após o final das erupções que tentei fotografar.
No ano passado, tentei ir à Guatemala para subir ao Acatenango e fotografar o Vulcão de Fogo. Parecia um plano infalível, já que esse vulcão nunca deixou de surpreender, pelo menos nos últimos anos. Conversei com guias locais, montei um plano para uma viagem super rápida durante um feriado, somente para garantir a foto da lava sendo expelida. E para a desgraça do turismo local de Antigua, o Vulcão de Fogo logo parou de explodir e eu nem cheguei a executar a breve incursão à Guatemala.
Minha falta de sorte com o Vulcão de Fogo não para por aí. Voando ao México no final de junho, tinha muita expectativa de vê-lo pela janela do avião ao passar pela Guatemala. Fiquei o tempo todo atento ao mapa durante o voo, mas o tempo lá embaixo estava completamente nublado. Quando supostamente sobrevoamos a Cidade da Guatemala por boreste, tudo o que vi foram as mesmas nuvens que nos acompanharam desde o Panamá até o pouso na Cidade do México.
No dia seguinte ao pouso, pegamos um ônibus a Oaxaca, onde participaria de um congresso de biologia tropical e conservação. Eis que em um momento inesperado da viagem, surge pela janela o grandioso Popocatepetl, o vulcão mais alto e mais ativo do México. Ao longe, todo nevado, com uma grande coluna de fumaça e nuvens abaixo, contra um céu azul em cima, poderia ser uma fotografia de concurso.

Vista da webcam de 27/06/2025, o dia do primeiro avistamento. Não estava exatamente assim no ônibus, pois a luz estava melhor, mas a vista estava mais longe e com menos nuvens.
Fiquei encantado com a paisagem e convenci meu companheiro de trabalho que tínhamos que ir até lá quando voltássemos à Cidade do México. Tínhamos somente um dia, então seria uma expedição bastante corrida e desajeitada… mas não esperava que fosse tanto.

Popocatepetl alguns dias antes da visita – expectativas altas (vista da webcam)
Como de costume, fiquei avaliando as webcams do vulcão todos os dias anteriores, e elas já indicavam que a rápida visita não seria promissora. Mesmo assim, preferi arriscar ver o vulcão de perto, já que ouvi se um senhor mexicano que é “melhor um instante do que nunca”. Afinal, os fenômenos naturais são aleatórios e imprevisíveis, então havia uma chance (mesmo que pequena) de poder ter alguma boa surpresa com o Popocatepetl.

Popocatepetl no dia anterior à visita – expectativas baixas (vista da webcam)
Apesar de estar relativamente próximo da Cidade do México, chegar ao vulcão não foi fácil. Saímos cedo, mas o trânsito já estava caótico, com muito movimento, ruas fechadas por obras e caminhos estranhos que o aplicativo de localização fez nos perdemos. Após três horas de carro para rodar 80 km, o que vimos, para variar, foram muitas nuvens. Por breves momentos, parecia que a vista do Popocatepetl ia abrir, mas após muita espera, frio e um pouco de fome, perdemos a paciência, pois sabíamos que o caminho de volta seria longo.

Meu instante com o Popocatepetl
Ao chegar em casa, a primeira surpresa. A chave da porta estava perdida em um buraco que o carro alugado tinha no console. Tivemos que abrir a parte plástica e pescar a chave lá dentro. A segunda surpresa veio ao tentar abrir a porta do meu quarto para descansar. Ela trancou por dentro e tive que esperar mais duas horas pelo chaveiro, que me cobrou mais caro do que ficou a própria ida ao vulcão.
Como dizem, fotografia de natureza é comparável à profissão de goleiro. É necessário ter treino, mas um pouco de sorte também ajuda. Não tive mais a sorte de ver o Popocatepetl nem na decolagem da Cidade do México. Mas, ao sobrevoar a Guatemala logo após o sol se pôr, pude, enfim, ver brevemente o Acatenango e o Vulcão de Fogo. Sem lava, sem fumaça, mas com um céu colorido que definia as silhuetas das montanhas que quis tanto visitar no ano passado e acabei não conseguindo ir enquanto ainda havia erupção.
Agora não tenho mais nenhum vulcão ativo no radar, só a esperança de alguma erupção futura, que não coloque a população local em risco, e que possa aproveitar alguns instantes para fotografá-la. Ou, talvez, apagá-la mais uma vez, como vem acontecido nos últimos três anos consecutivos.