Foto falida #4 – Ipê Amarelo

 

Fotografar árvores é ao mesmo tempo simples e desafiador. Como objetos estáticos na paisagem, são relativamente fáceis de enquadrar e compor com o céu, com o plano de fundo ou outros elementos do entorno. Essa simplicidade, porém, implica o desafio de conseguir uma composição de destaque dentre as milhares de fotos paisagens onde o assunto principal é uma árvore. 


Recentemente, o fotógrafo brasileiro Cristiano Xavier lançou o livro Treelogia (Editora Vento Leste), com 212 páginas de fotografias de árvores feitas ao longo de vinte anos de sua carreira. Com o foco na estética e não na botânica, a compilação de árvores retratadas no livro está longe de ser monótona e mostra a versatilidade do artista ao experimentar diferentes composições com o mesmo objeto – mesmo que cada árvore seja única e de espécies distintas. 


Também gosto muito de fotografar árvores. Ao contrário de Xavier, que viajou o mundo em busca de suas fotos, gosto de me dedicar às árvores do Cerrado. A toxicidade por alumínio do solo da savana brasileira faz com que as árvores dessa região tenham seus troncos e galhos contorcidos, formando verdadeiras “árvores da vida”, em vários sentidos. São esteticamente parecidas à figura mitológica da “árvore da vida” e biologicamente superam o desafio de sobreviver à perda e fragmentação do seu habitat, ao fogo e ao solo naturalmente pobre – lixiviado pelas fortes chuvas de verão. 


Não por acaso, minha foto preferida (até agora) no tema foi apelidada de Árvore da Vida. Já foi exposta em vários salões de fotografia, publicada na revista Landscape Photography Magazine, como capa do ensaio “Cradle of the Waters” na revista Revolve e elogiada pelo mestre Araquém Alcântara. Esta foto, porém, mostra só um lado da beleza das árvores do Cerrado. Quando secas, elas exibem seu formato de árvore da vida, mas quando florescem é que revelam sua vitalidade.


Neste mês, indo para um trabalho de campo na região de transição do Cerrado com a Amazônia, avistei inúmeros ipês-amarelos (Handroanthus ochraceus) ao longo de 2000 km de estrada. Essa é uma das árvores mais icônicas do Brasil central e é impossível não se impressionar com sua beleza. Quando florescem, no mês de agosto, perdem todas as suas folhas e toda a árvore fica intensamente amarela. Depois as flores caem e a árvore fica sem flores nem folhas por um tempo, até esverdearem por meses e amarelarem novamente no agosto seguinte. 


Apesar das centenas de ipês-amarelos que vi no caminho, um me chamou mais a atenção. Já era fim de tarde e a luz fraca do sol iluminou aquela árvore. O amarelo intenso, contrastando com o escuro da floresta já sombreada ao fundo, me pareceu perfeito para uma boa foto. O problema de viajar de carro é a vontade constante de parar para fotografar no caminho, o que nem sempre é possível. Como aconteceu o com fusca amarelo da primeira foto falida, não consegui parar a tempo para fazer a foto. Não havia onde estacionar na rodovia e nem tempo de retornar para aproveitar aquele momento de luz boa, iluminando somente aquela árvore na paisagem. 


Então, esse ipê amarelo, assim como o fusca amarelo, entrou para a seleção de fotografias que gostaria de ter feito, mas que ficaram registradas para sempre somente na memória.