Foto falida #3 – Lince Ibérico
O lince ibérico (Lynx pardinus) já beirou a extinção natureza por causa da caça e da destruição de seu habitat. Restrito ao território centro-sul da Península Ibérica, entre Portugal e Espanha, a maior parte da população restante ainda está concentrada em poucas regiões muito pequenas.
Após vinte anos de esforços para a conservação da espécie, que já esteve criticamente ameaçada de extinção, o Censo do Lince Ibérico, publicado em maio de 2024, revelou que agora já existem mais de 2000 indivíduos na natureza. Isso significa que a espécie já não corre tanto perigo, mas ainda assim está em estado vulnerável até que as populações sejam grandes o suficiente para manter a diversidade genética.
A falta de coelhos pela incidência da doença mixomatose coloca algumas populações em alerta, já que esses animais formam mais de 90% da dieta do Lince. Outro fator agravante, cujo impacto ainda é incerto, são as mudanças climáticas. Na região da Serra de Andújar, onde há uma das principais populações estabelecidas de lince ibérico, cada vez mais se observa a redução do período de temperaturas frias, propícias para o acasalamento dos linces, e o aumento das estiagens, prejudicando a disponibilidade de alimentos para coelhos e, consequentemente, para os linces.
Por isso, ainda é cedo para dizer que o lince ibérico está salvo da extinção, mas o crescimento populacional dos últimos anos é animador. Na Serra de Andújar, onde passei cerca de 300 horas para fotografar os linces em 2023, há registros de várias fêmeas com filhotes agora em 2024. Um cenário extremamente oposto ao que vi no ano passado e, por isso, fico muito contente com as boas notícias.
Espero que fique cada vez mais fácil de avistar e fotografar os linces ibéricos. Durante minha jornada em Andújar, já descrita anteriormente no blog, posso dizer que não foi nada fácil. Foram poucos encontros e a maior parte deles muito rápidos.
No terceiro avistamento, uma fêmea estava escondida atrás das rochas, típicas da paisagem em Andújar. A espera foi longa para vê-la, mas só mostrou um pedacinho da cabeça, dos olhos para cima. Mais espera…
Quando ela finalmente se moveu para sair da pedra a expectativa foi imensa, pois ela passaria por uma área aberta de pasto e se deixaria fotografar. Pensei que não poderia perder esse momento de jeito nenhum. Seria uma baita foto. E resolvi não deixar o trabalho para o equipamento. Como tinha muitas rochas, a probabilidade de o foco automático errar era grande. Por isso, coloquei o foco da lente no manual e apontei para onde imaginava que ela sairia, pois o momento seria muito rápido e não poderia perder o tempo de focalização.
Mas a natureza aleatória e imprevisível da natureza me pregou mais uma peça. Ela apareceu mais próxima do que eu imaginava. Tive tempo de fazer três fotos com ela no quadro. Todas sem foco.
Quando fui olhar as fotos com grande expectativa, me decepcionei. Questionei minha decisão de errar por mim mesmo e não ter como colocar a culpa na precisão do foco automático. O que consola é que antes perder a foto do que perder a espécie, e outras oportunidades para fotografá-la virão – e espero que em muito breve.