Foto do mês (maio 2025): O pesadelo

Um fantasma ronda todas as formas de arte digital – o fantasma dos HDs perdidos. Um dos primeiros textos deste blog foi inspirado em um pesadelo que, felizmente, não se tornou realidade. Sonhei que um vulcão engolia minha mochila de equipamentos fotográficos e nela estava um HD externo com todas as minhas fotos. De fato, naquele momento, ainda precisava duplicar meus arquivos de segurança para evitar uma perda total como aquela – e ainda bem que o fiz a tempo!

 

Junto com o disco externo de 8 Tb adquirido por conta do pesadelo (apelidado de Kurosawa) e usado como cópia de segurança principal, continuei usando o mesmo HD externo supostamente engolido pelo vulcão – um Lacie Rugged de 4 Tb. Ele foi comprado emergencialmente no final de 2022, por conta de outro HD externo que parou de funcionar durante uma viagem. 

 

Eis que a história se repete. Primeiro como pesadelo e agora como tragédia, pois chegou a hora final do mesmo Lacie comprado para substituir o HD que resolveu aproveitar a viagem para se aposentar. Como anunciado, essa experiência de agora foi um pouco mais traumática do que o pesadelo e até mesmo do que a substituição de um HD genérico por um Lacie Rugged. 

 

Recém chegado de viagem no final de abril, terminei de passar as fotos da câmera para o Lacie. Antes de copiá-las ao Kurosawa, por algum motivo ilógico, formatei os cartões da câmera. E aqui pude provar a máxima “quem tem dois tem um, quem tem um não tem nada”. Ao conectar novamente o Lacie no computador para copiar as fotos ao Kurosawa, abro o explorador de arquivos, seleciono as pastas, aciono o mágico ctrl+c e voilà… o explorador de arquivos fecha, e o Lacie some do computador. 

 

Reconectei o cabo USB e nada acontece, além da luz laranja piscando no HD externo. Tento forçar o reconhecimento da unidade e nada. Refiz o procedimento algumas vezes até testar o HD e certificar de que estava corrompido. Mantive a calma por um tempo, pois o Kurosawa estava intacto e não houve grandes perdas – além das fotos dessa última viagem. 

 

Mas perder as fotos dessa última viagem não me parecia nada razoável. Perdi a calma. Tentei usar vários programas para recuperar especificamente as últimas fotos, mas sem sucesso. Foram duas noites sem dormir tentando ter aquelas fotos de volta – muito pior do que um pesadelo que, pelo menos, contemplava um vulcão. Perder fotos assim, de uma forma tão menos emocionante (e mais estúpida) do que tê-las engolidas por um vulcão foi um horror. 

 

Esgotadas minhas esperanças de resolver o problema com as próprias mãos, enviei o Lacie corrompido para uma empresa especializada em recuperação de dados. Após uma semana do incidente, e pagando o preço de outra viagem, a empresa me devolve um SSD externo com as fotos que eu queria recuperar e o Lacie corrompido, agora guardado como lembrança na pilha de lixo eletrônico. 

 

Durante todo o tempo que lutei para não perder as fotos, não deixei de lembrar daquele pesadelo do vulcão – o fenômeno natural que está no topo daquilo que mais quero fotografar. Como escrevi naquele texto, o pesadelo parecia se passar em um ambiente do filme “Sonhos”, de Akira Kurosawa, conhecido por sua fotografia excepcional e marcado pelo arco-íris da cena final da primeira parte. Por isso, dentre as fotos quase perdidas, escolho um pequeno arco-íris em alto mar como a foto do mês

 

Devo admitir que tenho algum apego por esta foto. Talvez mais pela história de superação de sua quase perda eterna, sua quase inclusão na seção de “fotos falidas” deste blog, do que por seu apelo estético. Aquela tarde retratada, e a viagem como um todo, foi bem mágica e a foto em si agrega vários elementos que me recordam positivamente o filme “Sonhos”. 

 

A tempestade remonta ao “prelúdio das gotas de chuva”, de Chopin, tocado na parte mais legal do filme, quando Kurosawa sonha que está com Van Gogh. O mar borrado da foto, com tons amarelados e esverdeados, também guarda alguma semelhança, ou melhor, inspiração, com as águas marinhas de Van Gogh. E, enquanto no sonho o pintor disse a Kurosawa que o Sol o obrigava a pintar, a luz daquela tarde também me obrigava a fotografar a qualquer custo. 

 

Agora, sem perdas (e também sem vulcão por enquanto), reforcei as cópias de segurança com mais um Lacie e dois HD Toshiba novos, além do Kurosawa, triplicando todo o acervo. Pensei muito antes de comprar tantos HDs externos, pois foi caro e parece besteira. Mas quem tem três, tem dois e assim fico mais tranquilo de fato, pois, tudo o que é disco rígido ou sólido, em algum momento, desmancha no ar. 

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