Foto do mês (Edição de maio de 2024): Miudezas amazônicas
A maior floresta do mundo abriga o mais extenso e volumoso rio do mundo, que nasce na cordilheira mais extensa do mundo, com algumas das montanhas mais altas do mundo. A Amazônia é colossal e, se fosse um país, a extensão da bacia do Rio Amazonas (>7,05 M km²) seria a sétima maior nação do mundo, com 400 povos falantes de 300 línguas distintas. Em termos biológicos, estima-se que de 10% a 15% de todas as espécies conhecidas estejam na Amazônia. Isso inclui cerca de 30 milhões de espécies de animais, sendo a maior parte ainda por catalogar, e 400 bilhões de árvores distribuídas em cerca de 16 mil espécies.
É muito fácil de se impressionar com a grandiosidade da Amazônia e não é à toa que importantes nomes da fotografia mundial dedicaram parte de seus projetos à ela. Do suíço Emil Schulthess, ou o holandês Frans Lanting, à mexicana Cristina Mittermeier e aos brasileiros Araquém Alcântara e Sebastião Salgado, é impossível pensar em fotografia de natureza ou conservação sem voltar os olhares e lentes para a Amazônia.
Em especial, o último trabalho de campo de Salgado foi dedicado aos povos e às grandes texturas da floresta e seu ciclo hidrológico. Também Schulthess, Lanting e Mittermeier se dedicaram a alguns povos e regiões, enquanto outras pessoas se debruçaram sobre a diversidade biológica e cultural, como Araquém Alcântara que, em 50 anos de carreira, tem diversos livros dedicados à esta floresta. Lalo de Almeida, fotojornalista premiado quatro vezes no concurso World Press Photo sendo duas com a Amazônia, é também um dos cronistas fotográficos da floresta, porém com o foco em sua destruição – não menos colossal que sua exuberância.
Porém, são miudezas das bilhões de interações biológicas acontecendo simultaneamente que movem a grandiosidade desses ecossistemas. Cada animal polinizando, cada predação, cada folha em decomposição são invisíveis aos enormes números e exposições fotográficas sobre a floresta gigante. A importância individual para o todo é irrisória. Uma borboleta é só uma borboleta que, ao bater as asas, não causará nenhum furacão.
Mas o conjunto dos processos biológicos e culturais transformam quantidades em qualidade. Cada folha fazendo fotossíntese libera uma quantidade minúscula de vapor de água, mas o conjunto de todas as folhas cria uma nova potência de evaporação, fazendo com que a atmosfera receba por dia mais água do que a própria foz do maior e mais volumoso rio do mundo, alimentando todo o ciclo hidrológico da América do Sul.
São essas miudezas, individualmente irrisórias, que fazem da Amazônia um todo colossal e, por isso, um retrato de uma borboleta da espécie Nessaea obrinus foi escolhido para esta edição da “foto do mês”. Apesar de não causar nenhum furacão, essa espécie é rara em todo o reino animal, pois, até onde se sabe, é a única capaz de produzir um pigmento azul verdadeiro, chamado pterobilina. Em todas as outras espécies de animais, a coloração azul é resultado de um efeito do espalhamento da luz, ou seja, uma ilusão de ótica aos olhos humanos.
O estado de conservação dessa espécie não é conhecido e muito pouco se sabe ainda sobre esse pigmento azul. O que se sabe é que até nas miudezas, a Amazônia é grandiosa.