Foto do mês (Edição de dezembro de 2024): O extraordinário
No começo desse ano vi o relato de uma expedição ao Ártico no qual a exploradora dizia que havia visto tantas auroras boreais que acabaram ficando “tão ordinárias quanto os pores do sol” tropicais. De alguma forma essa afirmação mexeu comigo e, apesar da admiração pela trajetória que ela tem construído, me incomodei com a frase. Pensei muito e cheguei a falar algo sobre isso em junho, concluindo que fotografar o ordinário é tão difícil e bonito quanto escrever sobre ele.
De fato, tenho a impressão de que as auroras boreais são fenômenos bem ordinários para quem mora no Ártico. Em uma passagem por Andenes, exatamente no momento de fazer a foto que ilustra a história da última Foto Falida, reparei que enquanto eu congelava lá fora esperando por uma foto, as famílias viviam suas vidas sem se preocupar com os céus tingidos de verde e magenta. Talvez da mesma forma que, aqui nos trópicos, seguimos nossas vidas durante um belo pôr do sol.
Então, após meio ano intencionalmente prestando atenção ao ordinário, sigo firme com minhas palavras. De lá pra cá, não consegui fazer grandes fotos ou escrever bem sobre coisas tão ordinárias quanto o pôr do sol e esse desafio parece que deixa o ordinário ainda mais interessante.
Mas, também, devo dizer que não consegui grandes fotos de auroras esse ano. Tive duas breves oportunidades em setembro e em novembro, em cada polo do globo terrestre, e com muita expectativa por causa do máximo de atividade solar esperado para esse ano. Devo confessar que me frustrei um pouco, seja pelo azar da grande cobertura de nuvens que enfrentei nos dois pólos, seja pela atividade solar fraca nas noites de céu limpo.
Assim como a aventureira da frase incômoda, já “vi auroras de todos os tipos, de todas as cores”. Mas mesmo com as tempestades solares frustrantes, não deixei de me emocionar com cada uma das auroras que vi, assim como aproveitei cada pôr do sol que parei para ver.
Infelizmente ainda não tive o privilégio de poder passar todo um inverno polar no ártico – e reconheço que para um ser tropical como eu, poder pisar no ártico um vez, quem dirá quatro, já é um baita privilégio – mas espero por esse momento na minha vida. Será que vou enjoar das auroras? Será que vou querer voltar para vê-las de novo um dia? Não sei, só sei que, para mim, “as auroras são uma dos fenômenos naturais mais impressionantes que um ser humano moderno pode ver”, considere-as ordinárias ou não. Eu não.