Foto do mês (Edição de abril de 2024): Eretmochelys imbricata
Há mais ou menos 8 anos, na minha primeira visita à Ilhabela, no litoral paulista, visualizei uma fotografia que ainda não consegui fazer. Mergulhando com snorkel em um final de tarde na praia do Portinho, vi uma tartaruga saindo da água para respirar, quase alinhada com o Sol baixo no horizonte. Então, a vontade de fotografar uma tartaruga respirando ao pôr-do-sol permanece até hoje. Já tive várias ideias de como executar a foto, mas poucas oportunidades.
Em março de 2024 resolvi que seria o momento de realizar essa foto. Passei quase um mês na ilha e consegui mergulhar por 15 tardes não consecutivas na Praia do Portinho em busca da fotografia da tartaruga respirando ao pôr-do-sol. Em cada mergulho, por distintas razões, não consegui exatamente o que queria mas acabei fazendo muitas outras, além da amizade com algumas tartarugas que lá habitam.
A Praia do Portinho é um refúgio para muitas tartarugas verdes (Chelonia mydas) e tartarugas de pente (Eretmochelys imbricata). Realmente, a concentração de tartarugas marinhas naquele lugar é muito grande e isso se deve a vários motivos, como a proteção ambiental do Parque Estadual da Ilhabela, mas também aos dejetos humanos depositados ali, que nas atuais concentrações, favorecem o ambiente para que esses animais possam se alimentar – em detrimento de outros que se contaminam ou fogem dali.
Nessas tardes todas, peguei várias condições de mar, desde mar calmo e água muito cristalina, até mar bravo com muito material em suspensão e visibilidade horrível. Também acumulei avistamentos das duas espécies e passei a reconhecer alguns indivíduos. Um, em especial, uma tartaruga verde muito grande e velha, com algumas dezenas de anos, e cheia de cracas no casco, foi a mais difícil de fotografar. No meu primeiro contato com ela, a bateria da câmera acabou. No segundo, o cartão encheu. No terceiro, a caixa estanque alagou e saí da água o mais rápido que pude. Depois disso, a caixa estanque deixou de funcionar como deveria e as manobras passaram a ser mais arriscadas. Não podia mais mergulhar, mas somente ficar na superfície para não oferecer nenhum risco ao equipamento fotográfico. E, assim, esse incidente me forçou a ficar na linha d’água, experimentando outras composições.
Em uma tarde de mar mais bravo, após o tempo virar de repente, a situação com a caixa estanque fragilizada estava colocando a missão fotográfica em risco. Já abortando a missão de encontrar aquela grande tartaruga novamente, quando voltava nadando na superfície para a praia, avistei mais uma tartaruga de pente, geralmente mais dócil que as tartarugas verdes. Tanto mundialmente quanto nacionalmente ela é considerada uma espécie ameaçada de extinção, principalmente pela poluição marinha, redes fantasmas e caça, mas próximo ao Portinho não é difícil de avistá-las.
Impossibilitado de mergulhar para fotografá-la por causa da caixa estanque, fiquei esperando na superfície. Nessa hora, entrou o vento sul e o tempo já tinha fechado de vez. A visibilidade piorou muito e já estava desistindo de esperar essa tartaruga se aproximar da superfície para poder tentar alguma foto. E é quase sempre no momento de quase desistir que a mágica acontece. Ela finalmente subiu mas não respirou. Por alguma razão ela voltou para o fundo, junto com uma onda relativamente grande que passava. E com a caixa na linha d’água, fiz essa foto.
Tenho alguns gigas de fotos de tartarugas e da paisagem marinha do Portinho e ainda não estou convencido de que esta é a melhor de todas. De fato, nem cheguei a editar a maioria, apenas passei um pente fino no material conforme ia passando as fotos da câmera para o HD. Com bom tempo e paciência, é relativamente fácil fotografar as tartarugas ali com uma luz impressionante durante a tarde. Mas, olhando as fotos que selecionei até agora, apesar da luz mais fraca que as demais, da visibilidade do mar pior e do céu estourado, acho que essa é a mais única de todas e, por isso, escolhi para esta edição da foto do mês*.
Com relação à minha grande e velha amiga com cracas no casco, sei que já no final da expedição consegui algumas boas fotos dela próxima à superfície, só ainda não tive tempo para o trabalho de edição e curadoria, pois estou em meio a um trabalho de campo na Amazônia, como contado na publicação anterior. Mas ainda voltarei para a Ilha e espero poder trazer a foto da tartaruga respirando ao pôr-do-sol para a foto do mês*.
*No mês passado decidi mudar o nome da seção da foto do mês. Como geralmente estou publicando a foto do mês anterior somente no final do mês corrente, é mais coerente chamar de “edição de abril” do que “foto de março”. O conteúdo continua o mesmo: sempre apresentarei alguma foto feita no mês passado à edição e o motivo para isso está na apresentação a esse desafio pessoal. Em breve terei mais novidades sobre a “foto do mês”, se inscreva para saber mais.