Fundo do baú #1: Tapajós
A ideia de abrir uma nova seção no blog chamada “fundo do baú” pode ser considerada, ela própria, resgatada do fundo do baú. Já tinha essa ideia em mente quando comecei a reorganizar meu acervo fotográfico e o blog, pois surgiram muitas fotos que estavam lá digitalmente empoeiradas nos HDs, e que remontavam aos momentos iniciais dos meus estudos artísticos.
Várias vezes fui surpreendido por fotos esquecidas, agora integrantes do meu portfólio – lado a lado àquilo que venho produzindo mais recentemente. Outras, porém, destoantes da produção recente, continuam guardadas. E, inaugurando essa seção, quero tirá-las aos poucos do ostracismo e trazê-las de volta ao mundo.
Aproveitando que amanhã viajo à campo na região do baixo Rio Tapajós, e lá ficarei por duas semanas, quero resgatar uma foto feita exatamente no baixo Tapajós há quase 14 anos atrás, em agosto de 2011.
Infelizmente o arquivo original já se perdeu, então não sei exatamente o dia, nem a hora, nem as especificações técnicas. Mas me lembro exatamente do momento em que a fiz. Estava voltando de um dia inteiro em um barco pequeno pela imensidão das calmas águas do Tapajós. A superfície do rio estava tão lisa que toda ondulação era formada apenas pelo fraco motorzinho do barco. Após o pôr-do-sol, o horizonte se tingiu de vermelho, refletido no topo das pequenas ondas, colorindo as águas com tons indescritíveis – e nada representados fielmente nessa foto.

Do outro lado do rio, nesta faixa escura separando a água do céu, está a maior floresta tropical do mundo. Árvores com mais de 50 metros de altura condensadas nessa minúscula linha preta dão a dimensão da nossa pequeneza em meio ao imponente e castigado Tapajós.
Guardei um apreço por essa foto desde quando a fiz com minha velha companheira de expedições, uma Canon G11. À época, estava buscando experimentações e sei que essa foi a primeira vez que tentei uma “longa” exposição (algo em torno de um quinto de segundo) com a câmera na mão – técnica que atualmente uso muito (por exemplo aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e intensamente aqui) e que ganhou novas possibilidades com os avanços tecnológicos de estabilização de imagem nas câmeras e lentes. Seu pioneirismo na minha carreira não é só técnica, mas também no conteúdo, pois é minha primeira fotografia flertando com o abstracionismo – tendência que deixei de lado por muito tempo e que estou recuperando aos poucos.
Tenho muita expectativa com esse retorno ao baixo Tapajós, pois sei que muito mudou. A floresta está mais degradada, o rio contaminado por garimpo, e ameaçado pela construção de megausinas hidrelétricas. Mas a Amazônia, suas águas e povos, é maior do que seus algozes e com certeza a região ainda guarda mais encantos do que amarguras.