Foto do mês (Edição de Janeiro de 2025): Tamandua
Avistar grandes animais no meio da Floresta Amazônica não é fácil. A vegetação densa é propícia para que os bichos se escondam ou passem desapercebidos. Além disso, grandes grupos humanos andando pela floresta, como geralmente são os grupos que acompanho, são notados pelos demais animais de longe, dificultando o encontro com outros mamíferos. Então, nas minhas andanças recentes pela floresta, é mais fácil de contemplar as paisagens ou as miudezas, do que esperar pelo encontro com algum animal de maior porte.
Ainda assim, há uns quinze anos atrás, tive a grata oportunidade de encontrar com uma Harpia (Harpia harpyja) em seu ninho, com um pequeno filhote. Todos os dias passava debaixo do angelim, a espécie de árvore mais alta da Amazônia, e podia ver, lá no alto, a maior ave de rapina de Abya Yala.
Mais de uma década se passou para eu conseguir ver outro animal de grande porte na selva. Tendo um tamanho mais ou menos equivalente à envergadura de uma Harpia, bem como um peso semelhante, no fim de um longo e cansativo dia de campo é que se deu o encontro.
Foi no último dia de uma intensa campanha de coleta de solos, quando tivemos que andar pouco mais de uma hora e meia com toda a tralha para coletar, fazer as coletas, que por si só já exige muito esforço físico e voltar, caminhando pouco menos de duas horas e carregando aproximadamente vinte quilos de solos – além do equipamento levado a campo. O agravante era que o dia estava acabando e precisávamos correr para dirigir por mais uma hora e meia até a última balsa que nos deixaria naquela noite em Manaus. Como se isso fosse pouco, o esforço no calor sufocante da Amazônia quase desidratou uma das pessoas do grupo, aumentando a tensão na volta.
A equipe, neste momento dividida para otimizar o trabalho e composta só por quatro pessoas, andava cabisbaixa, suada, exausta. Foi então que ouvi um barulho vindo da copa das árvores e parei. Era o último da fila. Logo, o mateiro, puxando o grupo, também parou e olhou para o lado. Ele, que era de poucas ou quase nenhuma palavra, apontou para o alto e disse: “tamanduá”.
Mesmo com pressa, eu disse para o grupo: “vamos esperar um pouco”, enquanto ajeitava as amostras de solo no chão, para pegar a câmera e a lente na mochila. Enquanto isso, o simpático tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), que demorou a notar nossa presença, se movia entre as copas das árvores. Esses animais sentem muito bem o cheiro, mas ouvem e enxergam muito mal e, por isso, conseguimos ficar parados observando-o por um tempo, até que ele desceu e se embrenhou no mato.
A coloração amarronzada desse indivíduo não é tão comum na região da Amazônia central, ao sul do Rio Amazonas, sendo mais observada no Peru, Equador, Escudo das Guianas e norte da Amazônia brasileira, o que deixa o encontro ainda mais especial. Talvez esse registro possa ajudar a compreender melhor as colorações e as dinâmicas das diferentes populações de tamanduá-mirim na Amazônia. Mas por ora, é só uma lembrança de um momento feliz, em meio ao cansaço e ao calor do mormaço na floresta.