Exposição “50 anos da Revolução dos Cravos” por Sebastião Salgado e Lélia Wanick
Em fevereiro deste ano, ao completar 80 anos, Sebastião Salgado disse ao jornal The Guardian que deixaria os trabalhos de campo para se dedicar ao seu acervo monumental de fotografias. Menos de três meses depois, Sebastião e Lélia Wanick lançam, no Museu da Imagem e do Som (MIS) em São Paulo, a exposição “50 anos da Revolução dos Cravos em Portugal”.
Se para Sebastião Salgado, Portugal da Revolução dos Cravos foi onde ele aprendeu a construir uma narrativa fotográfica na prática, para nós, aprendizes e amantes das histórias visuais, a exposição é uma verdadeira aula de história e fotografia. A exposição faz parte da programação “Maio da Fotografia” do MIS, que conta com outras seis exposições, além da exibição de documentários sobre fotografia.
Por fim, meu elogio ao trabalho de Sebastião Salgado e Lélia Wanick não é irrestrito ou livre de ressalvas. Assim como em qualquer processo popular e qualquer pessoa, totalidade e contradição se unem, convivem e movem o ser. Se Salgado quase se sacrificou pessoalmente para dar visibilidade aos povos oprimidos, também usou de sua voz para tentar minimizar as responsabilidades da empresa Vale em seus crimes socioambientais. Também verbaliza um profundo desrespeito às pessoas cujo único meio fotográfico são as câmeras em seus dispositivos móveis, quando diz e repete incansavelmente que com um smartphone não se faz fotografia. Também ignora o trabalho fotográfico dos povos amazônicos, que buscam por si construir sua própria identidade a partir da sua própria documentação diária, quando afirma que é o único fotógrafo documentando a Amazônia em seu último projeto de campo. Mas arte e artistas são elementos inseparáveis e, com ou sem contradições, a exposição dos 50 anos da Revolução dos Cravos é impressionante pelo seu conteúdo, forma, originalidade e, como não, pioneirismo após meio século de uma trajetória inspiradora.