O experimento inesperado

 

Já ouvi algumas vezes que, em lugares turísticos, se há alguém com uma câmera “profissional” e um tripé montado, muita gente vai se aglomerar no entorno para fazer a foto daquele mesmo ângulo, do modo mais “profissional” possível. Uma das explicações para isso é que, em teoria, as câmeras “profissionais” são montadas nos melhores lugares para aquela cena fotografada. Então, qualquer turista com as câmeras de seus telefones vai poder ter a foto tomada desde o melhor ponto.

 

Se por uma lado tem um certo sentido, por outro nunca acreditei muito nisso. Não há muita lógica no fato de que ter uma câmera “profissional”, ou seja, uma câmera com lentes intercambiáveis, montada em um local vá resultar nas melhores composições. Afinal, quem opera a câmera pode fazer qualquer tipo de loucura, ou fotos ruins, com os melhores e mais caros equipamentos possíveis.

 

Mas também nunca havia posto esse conceito à prova. Como pra mim parece algo tão estúpido, testar essa hipótese é só uma perda de tempo. Tempo em que eu geralmente gasto contemplando o local e buscando uma composição que me agrade. O que nem sempre é fácil, especialmente em lugares turísticos muito fotografados.

 

Até que, há uns dias atrás, comprovei o fato de maneira bastante inesperada. Como disse, em locais muito fotografados, gasto muito tempo observando para ver o que (e se) vale a pena fazer em termos de composição. E foi exatamente o que fiz no lago de Wanaka, na Nova Zelândia.

 

Neste lago há uma árvore que, como diria o fotógrafo e editor Valdemir Cunha, é a “Torre Eiffel” da Nova Zelândia. Ir para Wanaka, na era das mídias sociais imagéticas, e não ter uma foto da árvore, é como não ter ido pra lá. Tanto que, ao buscar por ela nos aplicativos de geolocalização, o que se encontra é #thatwanakatree.

 

Dito isso, e tendo visto centenas de fotos dessa árvore, sabia que fotografá-la seria um desafio. E foi ainda mais chocante ver como o local é turístico. Há inúmeros ônibus e vans turísticos despejando pessoas o tempo todo que vão em busca da sua foto com a árvore. Por isso comecei a observar, a esperar a luz, a pensar quais as possibilidades de fazer uma foto ali. Sentei na praia do lago em um local um pouco afastado de onde demais turistas iam fotografar e, com a câmera montada no tripé, esperei. A câmera “profissional”, estava lá, desligada, mas apontando para a tal da árvore.

Foi então que notei um deslocamento completo do centro de gravidade turístico. A cada leva nova gente que descia dos ônibus, mais se aglomeravam em volta de mim para fotografar e, felizes, voltarem aos ônibus e seguirem ao próximo local. Aquilo me incomodou e, após o terceiro ônibus, mudei de lugar.

 

Levei a câmera desligada mas montada no tripé. Deixei ela ali e fiquei observando mais um pouco em um local mais tranquilo. De repente, uma nova leva de turistas… em volta da câmera. Olhei para onde eu estava antes e aparentemente ninguém daquele ônibus foi para lá. Aquilo me intrigou mais ainda.

 

Foi quando lembrei dessa história de que as pessoas tendem a buscar o que as câmeras profissionais estão buscando. Esperei mais um pouco e continuei observando a cena. Outro ônibus e outra nuvem de gente em volta de mim.

 

Sem acreditar muito resolvi, deliberadamente, mudar de lugar. Não era sacanagem com quem queria só ter a melhor foto da árvore (talvez até um pouco), mas um sentimento de investigação que estava me queimando por dentro. Precisava, de uma vez por todas, testar a teoria.

 

Sabendo que isso envolve o sentimento das pessoas em ter uma foto da #árvoredewanaka para suas redes sociais, não quis me aprofundar e nem testar por muito tempo. Mas sim, mudei mais duas vezes de lugar, voltando aos dois pontos onde estive antes. E percebi que a nuvem de gente acompanhava a câmera montada no tripé.

 

No final, achei um pouco de graça na história. Será que as pessoas, com tempo limitado pelas companhias de turismo para verem uma paisagem, são conscientes de que tendem a buscar um olhar teoricamente mais preciso para fotografar aquele lugar? Será que fazem sem pensar? Não sei como testar isso, mas sinceramente prefiro colocar meu tempo em projetos já em andamento.

 

Com todo o turismo promovido em torno das mídias sociais imagéticas, é completamente legítimo que as pessoas busquem rápida e facilmente os melhores pontos para as fotos de suas viagens. Infelizmente, pouca gente tem essa oportunidade de poder sentar e contemplar os lugares por onde passam. Vivo a esperança de que algum dia as experiências sejam mais valiosas do que as fotos instantâneas.

 

Não vou mais repetir esse tipo de experimento, pois para mim essa breve evidência já basta. Espero que as pessoas tenham ficado felizes com suas fotos da árvore de Wanaka, feitas dos ângulos nos quais me posicionei com a minha câmera desligada. No mais, posso dizer que fiquei satisfeito com a minha.